19.jan.2016
“Alterações no comportamento e no rendimento escolar podem ser pistas de que o auxílio profissional é bem-vindo para melhorar o presente e o futuro de seu filho”
Resistência. Essa é a palavra que nós especialistas mais usamos para definir a postura da maioria dos pais que levam seus filhos para uma avaliação psicológica. Eles têm uma aversão muito grande à terapia para suas crianças porque, em seu íntimo, isso é sinônimo de ‘nós falhamos’, ‘nós não damos conta de educá-los’. Sentem sua responsabilidade diretamente atacada.
Erick Rôso Huber, consultor do Consulte Aqui (portal de agendamento online de consultas médicas), concorda e nota também uma falta de disponibilidade física e emocional por parte desses pais. “Eles temem que em algum momento o acompanhamento psicológico infantil os atinja, o que pode acontecer, e criam todo tipo de dificuldade. Até as questões do transporte e de quanto tempo será gasto no trânsito acabam entrando na lista de desculpas para fugir do consultório”, relata.
Há, ainda, uma boa pitada de preconceito nessa equação. “Não é exclusivo no tratamento infantil. Muita gente ainda pensa que só precisa de psicólogo quem é louco”, conta Huber. Para Ricardo Halpern, presidente do departamento científico de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse é o primeiro aspecto que os pais devem trabalhar internamente caso seus filhos precisem de terapia: “Essa necessidade mexe com as emoções familiares, mas há que se conscientizar de que a promoção da saúde mental é importante em todas as idades”.
Atenção às mudanças
As crianças normalmente não precisam de avaliação psicológica. Ela é válida apenas quando existe uma situação que fuja da normalidade. E o que pode ser considerado fora da normalidade? O surgimento de um comportamento repetitivo e duradouro que não seja adaptável à vida cotidiana. Ele indica que a criança encontrou uma forma não adequada para lidar com seus problemas e frustrações. Daí é interessante procurar auxílio para a recuperação de sua saúde mental.
Mas nada de pânico diante de qualquer mudança de comportamento de seu filho. É importante se façam algumas perguntas antes de procurar um profissional:
– O novo comportamento da criança prejudica seu dia a dia e suas relações pessoais?
– O desempenho escolar piorou por causa desse comportamento?
– Há quanto tempo o comportamento se manifestou?
– Aconteceu algo na família ou na escola que possa ter motivado esse novo comportamento?
– Os pais já tentaram ajudar e não conseguiram?
Independentemente da idade da criança, se alguma das respostas incomodar os pais no sentido de acharem que é melhor ter uma ajuda externa, podem levar o filho a uma avaliação psicológica. Muitas vezes detecta-se que não é necessário um tratamento continuado, que uma orientação para os adultos lidarem com a situação já é suficiente.
Mais segurança para agir
Os benefícios do tratamento psicológico infantil são muitos. Além da promoção da saúde mental, Ricardo Halpern menciona o alívio da ansiedade e das situações que causam desconforto na criança. De acordo com Erick Rôso Huber, ela também consegue “resolver a questão pontual que causou sua mudança de comportamento e entender melhor o ambiente ao seu redor, interagir com o que se apresenta nele”.
Ao compreender a si e ao outro, ao aprender a se relacionar bem com as pessoas, essa criança construirá melhor sua auto-estima. Isso terá reflexos lá na frente, na vida adulta. Ela será um adulto mais seguro e completo.
Respeite o temperamento de seu filho
Diante de tudo isso, vale ressaltar que os pais não podem desrespeitar a personalidade natural do filho e tentar moldá-la ao seu gosto em um consultório psicológico. Ser muito quieto ou muito agitado não é motivo para precisar de psicólogo. A questão é realmente a mudança repentina de comportamento.
Trocando em miúdos: assim como entre os adultos, há crianças mais introspectivas e outras mais extrovertidas. E tudo bem. “Se o temperamento não afeta os estudos, a sociabilização e o relacionamento com a família, não há com o que se preocupar”, diz Erick. Nesse caso, a única recomendação que dou é que os pais aproveitem e se dediquem ao desenvolvimento do filho com a mesma atenção que dispensam à carreira profissional e à vida amorosa.
Fonte: IG
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