15.abr.2019
Crianças com tendência a um comportamento ansioso têm mais chances de, no futuro, desenvolver depressão, fobia social, que é a aversão à convivência, e outros transtornos associados à ansiedade, como crises de pânico. O sentimento de insatisfação permanente pode também alimentar a busca por drogas, que são o caminho mais curto para uma satisfação imediata. Sem falar que a vivência constante da ansiedade excessiva também pode acarretar danos físicos, como gastrite, úlcera e dores de cabeça crônicas.
Além disso, situações de estresse crônico na infância podem afetar até a formação de sinapses, que acontece até os 5 anos, e é seguida pela poda neural, um processo natural que, após formar sinapses, faz com o que o cérebro selecione as que de fato estão sendo utilizadas e elimina as demais.
“Crianças nessa situação formam menos sinapses e, quando vem a poda, os circuitos se formam de maneira diferente. Mais adiante isso pode desencadear, por exemplo, reações exageradas, fazendo com que eventos sem grande importância provoquem respostas desproporcionais”, explica a neuropediatra Silvana Frizzo. Por isso, fique atento ao seu filho e, na dúvida, sempre procure ajuda médica.
Aprendendo a esperar
Não são apenas as crianças que precisam aprender a esperar. Muitas vezes os pais é que devem segurar a própria ansiedade de ensinar os filhos a interagir melhor com o tempo. “Fazer uma criança pequena esperar quando ela tem fome, sono, dor, medo, não vai fortalecê-la, mas pode fragilizá-la. Se ela sabe que, se chorar, um adulto vai atendê-la, cria uma relação de confiança com o mundo”, explica a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP).
Além disso, para aprender a esperar, é preciso ter certeza de que haverá uma recompensa. Por isso mesmo, é importante diferenciar quando a espera é para ter uma necessidade básica atendida ou satisfazer um desejo. Uma coisa é não deixar o pequeno chorando de fome. Outra é lidar com o choro quando ele quer porque quer um brinquedo novo. Em situações como essa, ainda que ele não tenha maturidade para entender completamente, vale explicar que nem sempre podemos ter tudo na hora que queremos.
Já a partir dos 4 anos, a espera pode ser introduzida com mais afinco. Nessa fase, a criança já consegue se expressar melhor com as palavras e tem maior compreensão das coisas. Aproveite situações que já fazem parte da rotina, como aguardar a hora de comer a sobremesa, para que ela treine a paciência. Ainda assim, é bom lembrar que até os 6 ou 7 anos, a criança ainda não tem algumas noções temporais consolidadas. Por isso, é importante ajudar seu filho a gerir o próprio tempo.
Na casa da advogada Teresa Paladino, 44, a estratégia para amenizar os ânimos de Rafael, 4, que estava ansioso para viajar e encontrar os primos, foi criar um calendário. “Combinamos de ir marcando até a data da viagem chegar. Ele ficou animado e não mais ansioso”, conta.
A chave para ensinar seu filho a lidar com o tempo é essa: ajudá-lo a manter os pés no agora. “O papel dos pais é auxiliar as crianças a obterem a satisfação com o presente, mesmo quando há frustração”, diz a neuropsicóloga Adriana Fóz. E, para isso, é preciso estar aberto para observar coisas boas ao seu redor neste momento.
Você olhou à sua volta hoje? De que cor está o céu? Mostrou para o seu filho o brotinho novo do jardim? A formiga carregando folhas e a joaninha andando na flor? Estar presente de verdade é isso: abrir os olhos para todas as coisas lindas do agora, sabendo aproveitar cada cheiro, cada cor, cada brisa que bater no rosto. Ensinar seu filho a fazer isso é um grande presente. E não tem preocupação com o futuro que justifique perder esses momentos.
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