17.fev.2014
Como funciona a terapia com crianças? É igual ou diferente da realizada com adultos?
Essas questões são recorrentes quando existe a procura pela terapia infantil. Os pais e/ou responsáveis geralmente buscam o auxílio psicológico quando a criança demonstra algum comportamento estranho, geralmente em casa ou na escola, e surgem algumas dúvidas, como: esses comportamentos são “normais”, ou seja, estão adequados a idade da criança? Como nós, pais, podemos lidar com eles? Como será o tratamento? E como será a conduta deste tratamento?
A terapia com crianças é sim diferente da que é realizada com adultos. Para expressar suas emoções e aflições, os adultos recorrem quase que 100% à fala como sua principal forma de comunicação. Já as crianças, na sua maioria, não sabem explicar como se sentem emocionalmente, mesmo as que já sabem falar não entendem muito bem quando passam por situações complexas de medo, tensão, estresse, ansiedade e etc. Ao invés de verbalizar, as crianças expressam melhor suas emoções através do lúdico, que são as brincadeiras, o faz-de-conta,os desenhos, pinturas, jogos e etc. Cada criança tem uma maneira própria e autêntica de expressar o que sente.
É devido a isso que na terapia com crianças a brincadeira é muito utilizada. É um excelente recurso, mas que pode ocasionar em alguns pais certas dúvidas, questionando o resultado e veracidade do tratamento por verem seus filhos apenas brincando e se perguntam se “essas brincadeiras” não poderiam ser feitas em suas próprias casas com os colegas de seus filhos. A criança não só pode como deve brincar em casa, com os amigos, vizinhos e família. A diferença é que na terapia a brincadeira tem uma finalidade para a criança, que é a de transmitir algo inconscientemente, dando vazão a uma forte angústia. O terapeuta observa a maneira como a criança expressa suas emoções e como lida com elas, com situações cotidianas, como reage às frustrações, perdas, expectativas e, através disso, faz a sua intervenção buscando fortalecer os aspectos positivos da criança, desenvolvendo mecanismos que a ajudem a enfrentar suas dificuldades.
A brincadeira é importante e fundamental, não só como ferramenta de trabalho para o terapeuta, mas também como uma forma saudável da criança elaborar melhor seus sentimentos sem perceber. Ela pode representar na brincadeira um momento que considerou difícil na sua vida real e mudá-lo, por exemplo, quando vai ao médico e se sente apreensiva. Posteriormente ela pode representar essa situação brincando, tendo a opção de experimentar o lugar do médico, tendo uma vivência diferente da situação original. A brincadeira é um ensaio também para a vida adulta quando a criança brinca de ser mãe, pai ou de representar diferentes profissões: professora, piloto de avião, bombeiro, etc. E assim, através de suas inúmeras brincadeiras, vai aumentando seu repertório de vivências, elaborando e tentando compreender melhor o mundo à sua volta.
Dessa maneira, para que a terapia infantil dê bons resultados, a colaboração dos pais é imprescindível, inclusive dentro das brincadeiras de seus filhos. Os pais, ao reconhecerem e relembrarem a importância que as brincadeiras tiveram em suas vidas, podem se aproximar de seus filhos participando e enriquecendo esse momento lúdico de diversão e aprendizado. É importante observarem e perceberem reações não usuais e formas curiosas e diferentes dos filhos se expressarem em determinadas situações na brincadeira. Caso a criança esteja em terapia, é necessário e fundamental que os pais dividam essas experiências com o psicólogo, pois essas informações contribuem muito para o bom percurso do trabalho, enriquecendo-o e possibilitando uma melhor percepção e uma intervenção gerando, consequentemente, maior bem estar para a criança e para toda a sua família.
Ana Carolina Principessa Marioti Dantas
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