Saiba o que significam os primeiros desenhos das crianças

17.maio.2016

Saiba o que significam os primeiros desenhos das crianças

Considerados por muitos como uma expressão amorfa da realidade, os primeiros rabiscos que as crianças pintam são na realidade uma manifestação da sua inteligência, do seu desenvolvimento, da imagem do seu Eu interior. Alguns psicólogos importantes da primeira metade do século XX que se interessaram pelo desenho das crianças sob o ponto de vista semiótico tentaram demonstrar que o desenho infantil é, tal como a linguagem falada ou escrita, uma linguagem proposicional.

Para o professor Antonio Machón, estas primeiras manifestações gráficas supõem nada mais que a desatenção e esquecimento das primeiras formas de conhecimento da criança. No entanto, as formas seguintes de desenho, as que correspondem ao desenho figurativo ao qual estudiosos prestaram atenção, formam parte dos chamados sistemas simbólicos e dos conhecimentos ligados a marcos culturais específicos. É um desenho menos livre, sujeito às imposições dos pais e professores.

“A folha branca representa o mundo que o envolve e os seus traços sobre ela, o seu desenho, a imagem do Eu refletida nesse meio. […] A criança não é, em absoluto, uma artista, o que não quer dizer que as suas criações estejam desprovidas da expressividade e da beleza. A criança é, acima de tudo, uma criança”, afirma Machón.

O progresso dos desenhos

Os rabiscos e o império da ação (de 1 aos 3 anos)
Nesta primeira etapa, por meio da ação e do movimento, a criança experimenta de forma natural e espontânea com os traços e com o espaço gráfico, levando-se assim a descobrir prontamente a sua natureza formal, a sua função expressiva e o seu sentido representativo.
Os rabiscos são uma linguagem espontânea e universal. A criança rabisca para si mesma e a sua criatividade gráfica constitui um obsessivo e frutífero monólogo. Não se rege pelas pautas imitativas do mundo adulto, mas sim por leis interiores que marcam o seu próprio desenvolvimento. Leis universais que dão lugar a traços semelhantes no desenho de todas as crianças de um mesmo estado evolutivo, com independência de lugar, de raça e meio social.
Alguns pais tentam encontrar nestes rabiscos algo reconhecível, outros chegam mesmo a desenhar algo para que as crianças copiem. No entanto, enquanto uma criança se encontra na etapa dos rabiscos descontrolados, traçar um desenho de algo real é inconcebível. Tentar que a criança copie ou guie o seu desenho é algo que pode ser prejudicial para o seu desenvolvimento. De igual maneira é fundamental interessar-se pelo que a criança faz, deve sentir que é um caminho correto de comunicação com os adultos e com outras crianças.
Por volta dos 2 anos estes rabiscos irão passar a ser coordenados, ou seja, adquirem ritmo e harmonia: é uma conquista de ordem funcional. Os movimentos nesta idade vão apresentar uma maior flexibilidade e coordenação entre si ao aparecer nos traços uma ordenação cíclica, espacial e temporal inédita. Fazem rabiscos circulares, pontos, vírgulas, penas, entre outros, cujo som lhes diverte…
Próximos aos 3 anos de idade, começam a realizar rabiscos controlados, pois é o momento em que a criança descobre que existe uma vinculação entre os seus movimentos e os traços que executa no papel. Nesta etapa as crianças dedicam-se aos rabiscos com maior entusiasmo, devido à coordenação entre o seu desenvolvimento visual e motor, o que estimula e induz os seus movimentos na forma horizontal. Aparecem novos traços: ovais, imperfeitos, círculos, laços, linhas errantes, espirais, quebradas, ondas, etc.

A representação gráfico-simbólica (dos 3 aos 4 anos)
Nesta etapa a criança começa a dar nome aos seus rabiscos (“Esta é a minha mamã”, “Este sou eu correndo”, entre outros) mesmo que no desenho não se possa reconhecer nada. Isto indica que o pensamento da criança alterou-se, pois conecta os movimentos realizados para o desenho com o mundo que a rodeia. Os desenhos não se alteraram muito desde os rabiscos, mas agora são realizados com alguma ideia sobre o desenho final.
A quantidade de tempo que a criança irá dedicar ao desenho aumentará e os rabiscos serão mais diferenciados. Os traços podem estar bem distribuídos por toda a página e por vezes estarão acompanhados por uma descrição verbal do que estão a fazer. Esta conversação muitas vezes não é dirigida a ninguém em particular, sendo apenas um meio de comunicação com o próprio Eu. Em algumas ocasiões a criança anuncia o que vai fazer, enquanto em outras o desenho é o resultado das primeiras explorações em papel.

O início da representação figurativa (dos 4 aos 7 anos)
O trânsito nesta etapa dá lugar ao desenvolvimento gráfico infantil: o desenvolvimento cognitivo e perceptivo, que se dá pela descoberta dos primeiros parentescos compreensivos entre seus desenhos e os seres e objetos (a função icónica das imagens); o desenvolvimento gráfico-formal e as importantes conquistas da criança no campo do desenho; e a interação entre criança e adulto, sobretudo, no que diz respeito à escolarização.
Geralmente, o primeiro símbolo conseguido é um homem: a figura humana desenha-se tipicamente com um círculo (cabeça) e duas linhas verticais (pernas). Estas representações “cabeça-pé” são comuns nas crianças dos 4 aos 5 anos. Não deve chamar a atenção que a primeira representação seja uma pessoa, já que a importância das pessoas nos desenhos das crianças é bem evidente ao longo de toda a infância.
A representação de um personagem “cabeçudo” ou “girino” torna-se mais elaborada com a adição dos braços, que saem de ambos os lados das pernas, com o acréscimo de um arredondado entre ambas as pernas que representa a barriga e, em algumas ocasiões, com a inclusão do corpo.
A maioria das crianças desta idade pinta principalmente os seguintes temas: pessoas, casas, árvores, nuvens, carros, flores e elementos naturais polimorfos. Isso ocorre, basicamente, por três motivos: são mais fáceis de realizar, pois formam parte dos modelos que os adultos lhes ensinam; um dos principais interesses das crianças nesta idade é a representação do espaço e a caracterização ou localização do meio ambiente; as imagens mais recorrentes (a casa, o sol e a árvore) estão relacionadas diretamente com a representação da figura humana, autêntica obsessão da criança. De fato, é comum ver estes três temas representados com características humanas: pernas, mãos, sorrisos, olhos, entre outros.
Fonte: TodoPapás


ÚLTIMOS ARTIGOS

14/ago/2023

A agressividade na infância: como a psicanálise pode ajudar a lidar com essas emoções

A agressividade é uma das emoções mais comuns e naturais que fazem parte do desenvolvimento […]

LER MAIS >
31/jul/2023

Relacionamentos Abusivos – Será que me enquadro neles?

Os relacionamentos são uma parte fundamental de nossas vidas, inclusive na infância. No entanto, é […]

LER MAIS >