O desenvolvimento das amizades infantis

20.jun.2016

O desenvolvimento das amizades infantis

Com a iniciação escolar cada vez mais cedo, acelera-se o processo de socialização infantil. Entendendo este conceito como o desenvolvimento da autonomia pessoal e da aprendizagem de compartilhar com os outros, surgem as primeiras amizades do seu filho. As crianças, ao chegarem ao Jardim de Infância ou à escola, aprendem a partilhar um espaço (a sala de aula, o recreio, o refeitório, etc), os objetos e os professores. Dessa forma, até aos dois anos a maioria das crianças já começaram a ter os seus primeiros amigos.

Segundo o que se observa no dia a dia da profissão, Pelancha Gómez, diretora de um Jardim de Infância, com mais de 27 anos de experiência em psicologia infantil, destaca que poderia afirmar que as crianças não têm amigos segundo o conceito que os adultos têm da amizade, pelo menos até os 6 ou 7 anos. A sua relação com o outro evolui da seguinte maneira:

Até 2 anos: o jogo paralelo

Aprendem a brincar ao lado de outras crianças, mas de forma independente. É o jogo paralelo. A partir desta idade, na escola ou Jardim de Infância, ensina-se às crianças a esperar pela sua vez, a respeitar os brinquedos dos outros, entre outros. Iniciam também o jogo coletivo para que as crianças adquiram a noção de grupo, fundamental para a socialização ao intervir o contacto físico. No entanto, a comunicação é direta com os educadores e também pontual com algumas crianças. Pouco a pouco vão se conhecendo, nomeando e mostrando preferências pelos seus companheiros. Nestas primeiras relações, o mais importante é o intercâmbio e os brinquedos.

A partir dos 2 anos e meio e 3 anos: o amigo como elemento de companhia

Começa a ser mais clara a preferência de escolher um amigo em concreto como elemento de companhia, geralmente porque gostam mais de brincar com o mesmo ou porque um brinquedo do outro lhe interessa. Eles podem se tornar inseparáveis ou não pararem de brigar um com o outro.

Até 3 anos e meio: brincar em pequenos grupos

As crianças que estão na escola desde pequenas já assumem as regras sociais que surgem nas relações afetivas. No Jardim Infantil podem brincar em pequenos grupos e falar, embora cada uma fique imersa em sua própria atividade. Continua a ser um jogo individual, pois embora tenham a necessidade de companhia ainda não possuem a aptidão para cooperarem. Irão respeitando a intervenção do outro aos poucos, podendo moldar-se ao papel que lhe foi destinado.

Dos 4 aos 6 anos: um amigo, um jogo

Nesta idade, as crianças já têm preferências nos seus jogos e amizades, no entanto, ainda não é claro o porquê de escolherem um amigo, podendo se aproximar em gostos ou personalidades como ocorre com os adultos. Nestas idades, as crianças brigam por qualquer razão – alteração de escola, de cidade, entre outros –, mas isso não supõe nenhum problema ou trauma para elas.

Aos 7 anos: começam os jogos de futebol

Com o desenvolvimento do pensamento lógico as crianças vão aceitando e respeitando as regras do jogo porque têm um pensamento mais abstrato e um maior desenvolvimento do raciocínio. Nesta etapa surgem os jogos regrados, de competição, os esportes… e aumentam os jogos em grupos. Estes jogos são os que ocuparão a maior parte do tempo das crianças até à vida adulta.

A partir dos 8 anos: o primeiro “melhor amigo”

Já aparecem os autênticos “melhores amigos”, cujos laços são muito estreitos e entre os quais surgem conflitos. A amizade vai ganhando uma importância fundamental para a vida da criança e ajudam a criar sua identidade. A partir dos 8 anos já percebem a amizade como os adultos, compreendem o que significa compartilhar (além de objetos, entre pensamentos e conversas), alguém com quem contar para os momentos bons e para os momentos maus, para compartilhar tristezas e alegrias.

Como fomentar a amizade nas crianças?
Ser sociável desde muito cedo ajudará o seu filho a ter uma vida social ativa no futuro, o que melhora tanto a segurança como a autoestima. Você pode incentivar seu filho seguindo algumas destas dicas:

– Ensine com o exemplo. Se você deseja que seu filho seja sociável e com muitos amigos, ele deve ver este ambiente em casa, participando de festas e reuniões familiares para perceber as relações dos pais;
– Estimule o uso da palavra “amigo”. O seu filho deve ouvir os pais chamarem amigos como “hoje o Luís vem aqui, o amigo do papai. Ele vai trazer os filhos, o Pedro e a Maria, seus amigos”. É tão simples quanto isto. Desta forma, pode ajudar seu filho a identificar o conceito de amizade e sua valorização;
– Converse com seu filho. Embora pense que não tem nada a ver, o fato de prestar atenção ao seu filho estará a ajudá-lo a ser uma pessoa mais sociável e aberta. Estimular a relação de amizade dentro de casa é um passo fundamental para melhorar sua sociabilidade;
– Quando estiverem mais crianças na sua casa, evite as opções mais cômodas de entretenimento. Abandone a televisão e os eletrônicos: o melhor é dar lápis coloridos às crianças, canetas e deixar que espalhem seus brinquedos, pois assim estará estimulando a imaginação e fortalecerá os laços entre os pequenos. Compartilhar a diversão é muito mais que uma sessão de televisão;
– A menos que exista algum perigo, não intervenha nas brincadeiras e nas possíveis diferenças do seu filho. É melhor que as crianças aprendam a resolver os seus pequenos conflitos entre elas, desenvolvendo meios de trabalhar as dificuldades das relações sociais.

Fonte: Tudo Papás


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